Gabriela Medeiros critica escalação de atriz cis para papel trans em filme inspirado em canção de Chico Buarque: “Nos limitam”

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A atriz Gabriela Medeiros, que conquistou o público ao interpretar Buba na mais recente versão da novela Renascer, usou as redes sociais nesta quarta-feira (16) para criticar a escalação da atriz Thainá Duarte, uma mulher cisgênero, para viver uma personagem trans na adaptação cinematográfica de Geni e o Zepelim, canção de 1978 de Chico Buarque.

Gabriela, que também é uma mulher trans, lamentou a escolha da produção e afirmou que atitudes como essa apagam a história da comunidade trans no audiovisual. “Essa personagem é uma das pouquíssimas personagens trans no imaginário cultural brasileiro, uma personagem tão simbólica e forte, que retrata a vida de forma crua. Isso me aborrece, pois os espaços para pessoas trans/travestis no audiovisual já são por si só tão limitantes”, escreveu a atriz.

Ela reforçou a importância de reparações históricas em uma sociedade marcada pela exclusão de pessoas trans e travestis: “Quando falamos de reparações; essa personagem ser trans/travesti é algo muito forte e poderoso, visto que a história é justamente essa. Vocês têm a chance de fazerem essa reparação em suas mãos e escalam mais uma vez uma pessoa cis para dar vida a uma personagem trans.”

Gabriela também destacou as barreiras enfrentadas por atrizes trans em busca de oportunidades: “Não temos papel para você, nenhum que se encaixe no seu perfil, mas quando tiver, ligamos, tá?” – relatou, reproduzindo frases que ouve frequentemente. “Muito se fala sobre reparação, inclusão, mas realmente será que tem?”

Diante da repercussão nas redes sociais e críticas de nomes como Camila Pitanga e Liniker, a diretora do filme, Anna Muylaert, se manifestou sobre a decisão criativa. Segundo ela, a personagem do filme não seria necessariamente uma mulher trans, e sim uma mulher cisgênero, inspirada em outras camadas de leitura da música.

“Durante o processo de criação, entendemos que a letra do Chico e o conto Bola de Seda, do Maupassant, poderiam ter várias leituras: poderia ser uma mulher trans; poderia ser uma mãe solteira; uma carroceira da Favela do Moinho; poderia ser uma presidente tirada do poder sem crime; poderia ser até uma floresta atacada diariamente”, explicou Anna.

A diretora disse que a versão escolhida para o filme foi a de uma prostituta cisgênero na Amazônia, com influências da figura de Iracema e de questões sociais retratadas no longa Manas, sobre o Maranhão. “Não era nossa intenção fazer transfake. A ideia era de fato contar a história de uma personagem cis. Mas, diante da reação da comunidade trans, quero abrir o debate: essa letra do Chico, hoje, em 2025, só pode ser interpretada como uma mulher trans?”, questionou.

Anna encerrou seu posicionamento dizendo que está aberta a repensar o projeto: “Se a sociedade entende que a Geni só pode ser interpretada como uma mulher trans, a gente vai repensar o nosso filme.”

 

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