O Papa Francisco faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, às 2h35 no horário de Brasília (7h35 no horário local de Roma), conforme confirmou oficialmente o Vaticano. Jorge Mario Bergoglio, seu nome de batismo, foi o 266º pontífice da Igreja Católica e o primeiro papa das Américas. Ele ocupou o trono de Pedro por 12 anos, deixando um legado de humildade, defesa dos marginalizados e empenho por uma Igreja mais próxima dos pobres.
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados”, afirmou o comunicado oficial do Vaticano. “Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino.”
A última aparição pública do pontífice foi no domingo de Páscoa (20), quando, visivelmente debilitado pela recuperação de uma pneumonia bilateral, não celebrou a missa, mas apareceu na sacada da Basílica de São Pedro após a cerimônia. A homilia foi lida pelo Cardeal Angelo Comastri, arcipreste aposentado da Basílica.
Nascido em Buenos Aires, capital da Argentina, em 1936, Bergoglio era filho de imigrantes italianos — Mario Giuseppe, funcionário ferroviário, e Regina Maria, dona de casa. Era o mais velho de cinco irmãos. Estudou química antes de entrar para a Companhia de Jesus em 1958, marcando o início de uma trajetória religiosa profundamente influenciada pela espiritualidade jesuíta.
Aos 21 anos, enfrentou uma grave infecção pulmonar e perdeu parte do pulmão direito. Décadas depois, ainda recordaria a dor do procedimento em entrevistas com naturalidade e bom humor. Sua humanidade transparecia também em episódios da juventude, como a história não confirmada de uma carta que teria enviado a uma vizinha, Amalia Damonte, pedindo-a em casamento quando tinham apenas 12 anos.
Ordenado padre em 1969, tornou-se rapidamente uma das figuras mais importantes da Igreja na América Latina. Foi nomeado arcebispo de Buenos Aires em 1998 e cardeal em 2001 pelo Papa João Paulo II. Na época, recusou festas ou homenagens e pediu que os fiéis usassem o dinheiro para ajudar os pobres.
Com a renúncia de Bento XVI em fevereiro de 2013 — um gesto inédito em mais de seis séculos —, o conclave reuniu 113 cardeais. Após cinco votações, o escolhido foi Bergoglio. Quando a fumaça branca saiu da Capela Sistina, o mundo conheceu o novo papa com a saudação: “Parece que os meus irmãos cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo”, disse o argentino, arrancando sorrisos da multidão que lotava a Praça de São Pedro sob chuva.
Escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, símbolo de simplicidade, paz e cuidado com os pobres e com a natureza. A escolha foi inspirada por uma frase dita por Dom Claudio Hummes, cardeal brasileiro e amigo próximo, que o abraçou após a eleição e disse: “Não se esqueça dos pobres”.
O Papa Francisco entrou para a história como um reformador. Incentivou mudanças no governo central da Igreja, o Vaticano, priorizou a transparência nas finanças e enfrentou escândalos com firmeza. Lutou contra o clericalismo e incentivou uma Igreja “em saída”, próxima do povo, especialmente dos mais vulneráveis.
Também foi uma voz ativa em temas sociais globais: falou sobre mudanças climáticas, desigualdade, imigração e criticou sistemas econômicos excludentes. Enfrentou resistência interna por sua postura progressista em algumas questões pastorais, mas manteve firme sua missão.
Acolhedor com todos, Francisco buscou pontes entre religiões e culturas. Foi o primeiro papa a visitar a Península Arábica e teve encontros históricos com líderes muçulmanos e judeus. Também pediu perdão pelos pecados históricos da Igreja, especialmente em relação a abusos e omissões.
O funeral do Papa Francisco deverá ocorrer entre quatro e seis dias, conforme a tradição vaticana. Em até duas semanas, será convocado o conclave que reunirá os cardeais com menos de 80 anos para escolher seu sucessor.
Francisco deixa uma Igreja marcada por sua presença calorosa, seu sorriso sereno e sua coragem em promover mudanças profundas, mesmo diante de resistências. Foi o papa que preferia usar sapatos pretos comuns, que morava na Casa Santa Marta em vez do palácio apostólico, e que pedia: “Rezem por mim”, cada vez que encontrava um fiel.