A atriz Thainá Duarte não interpretará mais a personagem Geni na adaptação cinematográfica de Geni e o Zepelim, inspirada na icônica canção de Chico Buarque, lançada em 1978 como parte da Ópera do Malandro. O anúncio da sua saída acontece após grande repercussão negativa nas redes sociais, já que Geni é uma travesti na obra original, e Thainá é uma mulher cisgênero.
A escalação gerou forte reação da comunidade LGBTQIAPN+, que apontou a importância da representatividade trans em papéis que retratam suas próprias vivências. Em resposta às críticas, a diretora do longa, Anna Muylaert, anunciou neste sábado (19) que a personagem será interpretada por uma mulher trans e pediu desculpas públicas à comunidade trans e à própria atriz.
“Geni será interpretada por uma mulher trans. Lamento que todo esse processo tenha causado tanta dor. Reafirmo meu compromisso com a escuta, aprendizado e com a luta pela equidade”, declarou Anna.
Thainá também se manifestou por meio de um vídeo nas redes sociais, no qual explicou os motivos que a levaram a aceitar o convite e expressou sua dor diante das reações violentas que recebeu após a confirmação de sua escalação. A atriz, que tem 28 anos e uma carreira de mais de uma década, disse ter se sentido chamada a contribuir com uma releitura da personagem, conforme proposta pela diretora.
“Em conversa com Anna Muylaert, ela me explicou que queria fazer uma releitura, falar sobre a floresta, a Amazônia, com um paralelo com o feminino — um feminino ferido, machucado — e queria fazer isso com uma Geni cis. Isso me deu fundamentos para aceitar o papel”, contou.
Mesmo assim, Thainá afirmou entender agora a dimensão da reivindicação da comunidade trans e se solidarizou com a dor causada. “Sinto muito que essa escolha tenha machucado tanto a comunidade trans, porque agora eu entendo melhor o tamanho dessa reivindicação. E, longe de me colocar na defensiva, estou me colocando do lado de quem tá ferido.”
A atriz também relatou ter sido alvo de ataques e mensagens de ódio após o anúncio do papel, com ofensas pesadas como “transfóbica oportunista” e “você merece morrer”. Ela condenou esse tipo de reação, ao mesmo tempo em que reafirmou seu compromisso com a escuta e o aprendizado.
“Me dói pensar que, mais uma vez, Geni foi apedrejada em praça pública. Agora, uma coisa que eu acho que não justifica foram alguns dos ataques que recebi. Está doendo aqui, tá doendo bastante”, desabafou. “Eu reafirmo o meu compromisso com o aprendizado, com a escuta, com a luta por equidade de todas as formas, e que essa experiência sirva de ponto de inflexão para o audiovisual. Com todo o meu respeito e solidariedade.”