Ícone do pagode dos anos 1990, Netinho de Paula voltou a falar sobre um dos episódios mais polêmicos de sua carreira durante participação no podcast Papagaio Falante, ao lado de Chrigor (ex-Exaltasamba) e Márcio Art (ex-Art Popular), seus parceiros no grupo Samba 90 Graus. Na entrevista, exibida nesta quarta-feira (16), o cantor e apresentador relembrou a agressão ao humorista Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo, em 2005, durante o lançamento da TV da Gente — emissora voltada à valorização da cultura negra — no Dia da Consciência Negra.
Netinho não fugiu do assunto e justificou sua atitude: “Ninguém bate por nada. Mandei parar três vezes, não parou, dei um soco nele. Era Dia da Consciência Negra, senhorinhas estavam recebendo homenagens”,** explicou. Segundo ele, o momento era simbólico demais para ser interrompido por uma piada: “Nunca liguei para essas coisas de humor. Tinha um menino que fazia o Mano Quietinho, maior barato, um querido, mas ele [Vesgo] passou do ponto”.
O artista aproveitou para criticar o tipo de humor que fazia sucesso na televisão brasileira nos anos 2000: “Aquele humor, que era importado, metido a irreverente, mas era desrespeitoso. Foi uma fase que o Brasil viveu”, disse ele, reforçando a importância da data em que tudo aconteceu. “Para mim, 20 de novembro é uma data muito significativa, tem a ver com a minha história, com a minha família, minha gente, meu povo. Da mesma forma que judeus param para discutir o Holocausto, 20 de novembro é o dia que paramos para discutir o que sofremos no país. Não é dia de piadinha e brincadeira.”
Netinho também revelou que reencontrou Vesgo anos depois: “Não sei [se perdoou], mas também se não perdoou… Ele veio fazer uma matéria depois e falou: ‘Você não deve nunca mais bater em ninguém’ e eu disse: ‘E você não deve fazer piadas de negro no dia 20 de novembro’.”
O caso foi parar na Justiça. Em 2010, Netinho foi condenado a pagar uma indenização de R$ 45 mil a Rodrigo Scarpa pela agressão. Em 2014, durante entrevista ao extinto Agora É Tarde, ele reafirmou seu posicionamento: “Tem algumas coisas que comigo não dão certo: racismo. Sou defensor da questão étnico-racial no Brasil.”
No mesmo ano, Vesgo processou novamente o cantor, desta vez por calúnia, e recebeu mais R$ 18 mil em indenização.