O ator Guilherme Weber, aos 52 anos, tem se mostrado imbatível quando o assunto é trabalho. Embora a novela Volta por Cima tenha sua trajetória encerrada no dia 25 de abril, o intérprete do contraventor Marcos não terá tempo para descansar. Em 2025, sua agenda está repleta de compromissos no cinema, teatro e outros projetos artísticos. Para ele, a vida de freelancer é uma constante maratona, onde “freelancer nunca está de férias”, como ele mesmo brinca. “Geralmente dá um vazio muito grande quando você termina um trabalho e é bom já ir curando esse vazio com outro”, compartilha o ator, refletindo sobre a natureza incansável de sua profissão.
Weber se diverte interpretando Marco, o bicheiro de Volta por Cima, e faz questão de destacar que seu personagem vai além dos estereótipos. “O Marco é meio que uma fantasia do que seria um contraventor, do que seria um mafioso, um bicheiro. É uma fábula com a possibilidade de subjetividade de fábula”, explica o ator, que vê a novela como uma produção “super democrática”, que “abraça o subúrbio muito festivo e esperançoso, um subúrbio onde o Brasil deu certo”, enfatizando o caráter inclusivo e positivo da história.
Dentro da trama, Marco tem uma relação complexa com Violeta, interpretada por Isabel Teixeira, que Weber descreve como uma mistura de poder, atração e desejo. “Eles têm uma atração louca um pelo outro, de libido, de reconhecimento de poder, de tesão pelo poder. Ela é uma capo [chefona], uma mulher ambiciosa e que subverte algumas barreiras. Ele tem um tesão absoluto nessa mulher porque se vê ali”, explica o ator sobre o vínculo entre os dois personagens.
Essa é a terceira colaboração de Guilherme Weber com a autora Claudia Souto. Eles já haviam trabalhado juntos em Pega Pega (2017) e Cara e Coragem (2022), o que, para o ator, torna a parceria ainda mais especial. “Ela é meu Scorsese de alguma maneira”, brinca, referindo-se à icônica parceria entre o diretor Martin Scorsese e o ator Leonardo DiCaprio. “Estou completando uma trilogia com Claudia, e essas parcerias de autor e ator são sempre muito fortes para a cultura pop, né? Cria fagulha histórica de cultura pop”, diz.
No entanto, o fim de Volta por Cima não marcará o início de um período de descanso para o ator. Dois dias após a novela ir ao ar, Guilherme embarca para as Ilhas Faroe, na Suécia, para filmar um longa-metragem dirigido por Helen Beltrame, que foi diretora do Bergman Center, fundação que preserva o legado de Ingmar Bergman. “Ela conheceu Bergman quando criança e vai contar essa história. Somos amigos há muitos anos, nos conhecemos pelo cinema, vai ser bem especial esse trabalho”, antecipa.
Guilherme interpretará uma espécie de “fantasmagoria” do lendário ator Max Von Sydow, conhecido por suas parcerias com Bergman. “Max Von Sydow é um dos meus atores favoritos, o meu avô era muito parecido com ele, escrevi seu obituário para a Folha de S. Paulo. Vamos filmar na casa do Bergman”, conta o ator, compartilhando a emoção de trabalhar em um projeto que une sua paixão pelo cinema e uma forte conexão pessoal com o legado de Bergman.
Após esse trabalho internacional, Guilherme retorna ao Brasil e estreia no Rio de Janeiro o espetáculo solo O Corpo Mais Bonito Já Visto Nessa Cidade, de Josep Maria Miró. A peça gira em torno de um adolescente gay de 17 anos que é assassinado em uma pequena comunidade. O ator se desafia ao fazer todos os papéis na produção, interpretando as sete vozes que reconstituem a vida e a morte do jovem. “Faço todos os papéis, as sete vozes que vão contando a história desse crime”, antecipa.
No segundo semestre de 2025, Guilherme Weber se prepara para estrelar nos cinemas com Dr. Monstro, dirigido por Marcos Jorge, sobre o caso real do cirurgião plástico Farah Jorge Farah, que matou e esquartejou a amante. “É bem true crime, um filme de tribunal”, explica, detalhando seu papel como o advogado de defesa de Farah, interpretado por Marat Descartes, enquanto Taís Araujo viverá a advogada de acusação.
Além disso, em 2027, Guilherme assumirá a direção de Chanel, uma peça de Maria Adelaide Amaral sobre as memórias da famosa estilista francesa, interpretada por Christiane Torloni.
Guilherme também está otimista sobre a retomada cultural do Brasil, que ele atribui ao público brasileiro. “Acho que a gente está numa tentativa de retomada econômica, mas o que aconteceu pós-pandemia é um entusiasmo do espectador brasileiro com a sua própria cultura. Os teatros estão cheios, os shows estão cheios, as pessoas estão redescobrindo artistas brasileiros. Há um calor intenso de amor pelo Brasil”, observa.
Em meio a essa fase criativa, o ator também celebra a recente vitória do cinema brasileiro no Oscar, com a premiação de Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Para ele, o prêmio representa não só o reconhecimento internacional, mas também um marco na indústria cinematográfica brasileira. “O Oscar vem como prêmio também de resistência, porque [o filme] fala sobre o poder da memória, de não apagar [fatos históricos]. É sobre a importantíssima preservação da memória para que a ditadura não se repita ou os ataques a ele não se repitam”, finaliza.