Laís Basílio, de 23 anos, conseguiu mobilizar a comunidade brasileira na Irlanda ao alegar que estava em tratamento para um câncer de medula. Depois de mais de um ano arrecadando doações por meio de vaquinhas online e transferências via Pix, Laís confessou que toda a história era uma mentira. No último sábado (10), ela postou um vídeo em seu perfil no Instagram admitindo a farsa.
“Eu comecei isso mostrando o rosto e vou terminar da mesma forma. Estou aqui para assumir a responsabilidade e quero pedir perdão à comunidade brasileira e à sociedade oncológica. Espero que, mesmo depois de tudo isso, vocês continuem apoiando quem realmente precisa,” disse a jovem, que é de São Paulo e estava residindo na Irlanda.
Ela ainda garantiu que seus familiares não tinham conhecimento da farsa: “É importante deixar claro que nenhum dos meus familiares estava envolvido. Fiz tudo sozinha. Independentemente do que acontecer, estou pronta para arcar com as consequências. Eles acreditaram como todo mundo.”
Laís havia afirmado nas redes sociais que fora diagnosticada com câncer de medula e que precisava urgentemente de um transplante, alegando que teve de abandonar o trabalho e que estava sem recursos financeiros para se sustentar.
As doações foram solicitadas em um site divulgado por Laís e por outros brasileiros residentes na Irlanda. Uma mensagem, redigida em português e inglês, relatava a falsa doença:
“Olá, meu nome é Laís, tenho 23 anos e descobri um câncer em dezembro de 2023. Desde então, passei por quimioterapia, cirurgia e radioterapia e agora estou à procura de um doador de medula compatível. Desde que recebi o diagnóstico, parei de trabalhar e, consequentemente, estou sem receber salário ou ajuda do governo, pois estou aqui como intercambista e não tenho tempo suficiente de contribuição. Até agora, estava sobrevivendo com as minhas economias e a ajuda de amigos. Decidi criar essa vaquinha para ajudar a pagar as contas e trazer minha mãe para ficar comigo. Agradeço de coração a todos e qualquer ajuda é bem-vinda.”
Laís recebeu apoio de muitos, especialmente da comunidade brasileira na Irlanda. No entanto, a revelação da mentira gerou indignação entre os apoiadores. Gabriela Cruz, residente na Irlanda há nove anos e uma das pessoas que ajudaram a divulgar a campanha, relatou que a mobilização ganhou força com o apoio de um brasileiro que se tornou figura política em Dublin após salvar uma criança de um esfaqueamento, e de uma ONG brasileira que auxilia pessoas com câncer na Irlanda.
“Fizeram um vídeo que alcançou mais de 400 mil visualizações. Esse brasileiro, inclusive, me disse que o caso da Laís foi protocolado junto ao embaixador para sancionar uma lei que permitisse aos brasileiros doar sangue e medula aqui, já que se recusam a fazer o exame de chagas,” explicou Gabriela ao jornal O Globo.
Após a confissão de Laís, Gabriela e outros membros da comunidade decidiram acionar a polícia para verificar as medidas cabíveis. “O sargento explicou que as doações foram feitas de forma voluntária, então não se configura como fraude. Ele mencionou que, como a vaquinha ainda está ativa, as pessoas têm o direito de denunciar e solicitar o reembolso,” relatou Gabriela.
Laís arrecadou 5.890 euros (35.293,05 reais na cotação atual) apenas com a vaquinha online, além das doações feitas diretamente via Pix, conforme informou Gabriela.