A vida de Anderson Melo ainda não retornou ao normal desde a última quinta-feira (14), quando foi alvo de ataques homofóbicos durante uma partida do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, no Recife. Em entrevista à Quem nesta quarta-feira (20), o atleta, de 32 anos, compartilhou como está se sentindo.
Durante todo o jogo, Anderson foi alvo de insultos homofóbicos. Ele relatou que tentou manter o foco na partida, mas seu psicológico foi afetado. “A torcida gritava, me xingava, falava coisas absurdas. A gente sempre tenta esquecer a torcida e focar no jogo. Foi o que eu fiz num primeiro momento. Só que na metade do primeiro set aquilo ali já foi me atingindo de uma forma brutal. Comecei a entender que a torcida estava me fazendo mal. A torcida estava conseguindo me vencer.”
O atleta só percebeu a extensão dos insultos no final do primeiro set. “Sentei no banco, olhei para o nada e falei: ‘Gente, o que está acontecendo?’. Um amigo meu entrou na quadra e falou: ‘Anderson, chega. Para o jogo. Já passou de todos os limites’. Ali foi o ponto em que eu percebi que estava sofrendo homofobia e que isso é crime”, enfatizou.
Ele então comunicou a situação à árbitra da partida, que informou os organizadores do circuito. Um delegado foi posicionado na lateral da quadra para tentar coibir os criminosos, mas isso não foi suficiente. “Eles continuaram gritando. Eles continuaram me ofendendo. Quando eu saí da quadra, estava fora de mim. Fui acudido por dois amigos. Depois dessa violência psicológica que sofri, eu ainda estive em mais dois jogos, só então fiz o boletim de ocorrência no Rio de Janeiro”, disse Anderson.
Desde então, a rotina de Anderson foi interrompida. Ele tem enfrentado dificuldades para dormir, está com medo e decidiu buscar ajuda médica. “As sequelas do que aconteceu vão ficar aqui durante um bom tempo. O primeiro jogo após o que ocorreu, todas as vezes que a torcida adversária comemorava, eu me tremia todo, eu me assustava. Sinceramente, não sei como vou reagir nas próximas competições. Desde o ocorrido, que foi na quinta-feira, se eu dormi 15 horas foi muito. Vou começar um tratamento com a psicóloga”, contou.
Anderson não havia retornado aos treinos de vôlei desde a última quinta-feira e também estava afastado de seu segundo emprego como personal trainer. “Hoje foi o primeiro dia que eu voltei a treinar, mas não consegui treinar bem. Eu treinei 20% do que eu posso. Pode ser que seja pela situação, pode ser que seja pelo tempo que estou sem dormir. Dá uma hora da manhã, duas horas da manhã, eu ainda estou virando para um lado e para o outro. Na verdade, não estou dormindo, estou cochilando”, declarou.